Kerouac Vs Fausto

Eu não sei exatamente onde é possível conter meu espírito. Procuro ardentemente a passagem para o platô. A cobertura de um mundo que é real, que pertence a um possível, mesmo que sempre, sempre, qualquer coisa que seja, aqui sempre será como um simulacro.

Tento continuamente me esgueirar do caminho. Prefiro a luz forte e ardente da porta arreganhada. Por um momento me penso como um anjo fodido que rompe o umbral para falar aos ventos do ódio e da raiva sobre a suavidade do silêncio e do tal. Feito um equilibrista, conquisto prédios altos para me afirmar na ponta dos pés. Quero erguer comigo um império esfacelado pelos desejos de todos aqueles que reinam em meu coração.

A vida tem uma retórica estúpida de impossibilidade enquanto ela mesma não é narrada pelo que é humano. Nosso abrigo sobre o solo é fração, não unidade. Essa se vem com a consciência de que o alto está no baixo. Tudo é sentimento, tudo é racional.

Passei anos penando para conseguir afastar de mim o desejo pelo pecado de querer fincar raízes. Não que fosse mais simples seguir o caminho do espelho, mas minha lição de existência me mandava querer ficar. Seria mais fácil, faltaria o humor, mas teria a velhice. Todavia o mesmo demônio me mandava como alternativa seguir caminho para as luzes ilusórias da cidade grande. Lá, dizia, “os vagabundos iluminados iriam querer ouvir de sua voz o beat. Lá, as cores da sua existência se tornarão aroma para a vida de milhares de outras pessoas”.

Mover e não mover, ambos são Fausto.

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