Kerouac Vs Espinoza

Na mais louca de todas as cidades, encontrei meu esplendor. Minha inquietude se inicia quando me pedem para escrever seu nome em um papel. Digo a eles que a grande cidade são todas, são todas as coordenadas que meus pés e meu espírito habitam no aqui-agora. Lowell, Frisco, NY, LA, Mex. City e centenas de milhas de asfalto e poeira compõem a imensa e inigualável vila que percorro abundantemente há anos.

Na física em que me desencontro, não há espaço, somente um tempo relativo, um envelhecer dos ossos e das posições flexíveis. Percebo por toda parte, pelos olhos dos meus vizinhos de estrada, que o melhor para todos é que o silêncio e a inércia continuem salvaguardando o ordenamento cotidiano. Assim, particularmente, não sei afirmar se existe realmente um lugar ou se tudo que existe são lugares, uma unidade, impossível de ser vista ou medida, apenas teorizada.

As fronteiras continuam mesmo que falhem nos mapas. Elas são inseparáveis e se envolvem eternamente. Não há acidente geográfico ou tratado que possa realmente afirmar se um muro ou um penhasco realmente separa as almas de distantes coordenadas, mas que bailam sobre a Terra continuamente, constantemente e, absolutamente, ao mesmo instante, em uma coreografia intensa e saborosa, recheada de vigor e beatitude. Se você consegue se separar, então me diga com exatidão onde me termino e o mundo se começa, onde meu pensamento é quebrado, segmentado e outro, enfim, se torna alvo para controle e padronização.

Por um forte acaso a aparente babel se formou, mas qualquer teoria que tente equiparar, classificar ou desclassificar grupos, glebas humanas, demonstra-se de início, falha. Somos porções oceânicas, talhadas sobre a aparência carnal, recheados de água e vaidade. Somos bolhas aquáticas que caminham cegos pela crosta, encrostadas em velhas incertezas e medos contínuos da maré e do malefício. Não existem limites, muito menos soberanos, menos ainda, donos de si. É com pesar e tristeza que acompanhamos o homem tentar em vão separar sua vida da do outro, requerer sua individualidade através da convenção: você finge que é livre, enquanto acredito que sou autêntico.

E a chave para todas essas respostas, o estopim para que todos possam entender de vez por todas que estamos imersos na mesma geleia, atende por um nome, morto como toda palavra, mas sempre vivo em seu resultado prático: a música é aquilo que comprova a unidade. Tente não ouvir o mundo, impossível. Mesmo os surdos escutam seu coração. Mesmo os surdos ouvem seu próprio orgulho gritando do seu interior, reivindicando lugares (que não existem), frustrando perspectivas (que não se realizam).

Hoje, minha casa é a estrada e meu veículo é a onda sonora que acompanha os passos de toda essa gente que se move e se furta junta, que vive, morre e revive continuamente, sem que haja qualquer percepção de que não há dentro ou fora, mas um constante dentro e fora, unitário e fragmentado, unido pela certeza do que se vê e pela a ilusão do que se olha.

Salve a imanência! A distância entre o céu e a terra é feita de infinitos vazios que não permitem rupturas, entretanto criam palavras que se separam por regras, significados e espaços.

Não há vazio porque só há vazio!

Não existem palavras, pois são todas desenho!

Deixe um comentário