Kerouac Vs Chaplin

Vou me permitir encerrar esta primeira parte com um novo parágrafo. Não quero transparecer qualquer tipo de ofensa a quem lê e se acostumou a ver os assuntos separados por vírgulas, pontos e parágrafos. Deixei sim, a faculdade no meio do primeiro ano por que não conseguia me ver adormecido no sonho americano, servindo a pátria de acordo com o poder oficial. Servir ao sonho da liberdade não é seguir as normas de um estado e sim, praticar cotidianamente a diferença sutil que atinge ao espírito de quem se afeta com nossa presença. É na hora de atravessar a rua, se impondo na frente dos carros – que insistem como reis da civilidade, como se fossemos – nós, coletivo de pedestres, entidades mais importantes que os homens que os navegam, ou como tratamos com gentileza aquelas almas (que nunca vimos) que passam nas calçadas, quando as cumprimentamos nas ruas, independente da cor da pele, do tipo de roupa ou do lugar onde moram.

Uma lástima cada vez mais aceita pelos jornais, corrompida pelo rádio e largamente inflamada pelo cinema são as famílias terem medo do desconhecido nas ruas e se fecharem num consumo desenfreado por mercadorias que garantiria a casa como o lugar de proteção. Não quero que o espírito que me habita e me habilita a falar sobre a verdade, seja corrompido pelo sistema. Não vou ser mais um branquinho a trilhar o verdadeiro caminho da América.

A indústria que se forma é muito mais preocupante do que aquela que Chaplin denunciou – alienante, repetitiva. Agora é a propaganda, a própria empresa que Carlitos alimentou ao amenizar nossa angústia rindo de nossa ignorância diante o poder vigente.

O nazismo não ocorreu apenas na Europa, nós, ou eles – eu sou franco-canadense, os da América, fizeram o mesmo ou pior contra aqueles que aqui estavam. E foram os de pele branca, machos, cristãos que importunaram ainda os que são classificados como negros, nativos, latinos, judeus, velhos, bichas, mulheres e crianças. Para estes, qualquer lei é um absurdo! Os negros valiam 3/5 de seus pares brancos há pouco mais de 40 anos e hoje, precisam se esconder para apresentar a beleza de sua arte, principalmente, em se tratando de música e movimento. O jazz se tornou, finalmente, um grito negro. Algumas pessoas me olham de forma insinuosa quando converso com negros ou judeus. E esta história é comum e vivida até por aqueles que não nasceram no novo mundo. Italianos, Irlandeses, amarelos, todos estes, pegam nas mesmas armas do preconceito e mesmo ridicularizando o modo americano de resolver as coisas, se tornam cidadãos quando se sentem incomodados pelas minorias. Eu ainda creio em Jesus Cristo como o meu grand Senhor. Quando li Camus no último verão, cheguei a conclusão que o nazareno seria a porra de um existencialista se habitasse entre nós nos dias de hoje. Um apaixonado pelo seu próprio romantismo, mas cético o suficiente em um niilismo incapaz de fazê-lo sofrer na cruz. O problema é que as mães não querem sofrer como Maria. Seus filhos não precisam do amor ou da sabedoria e sim, ser alguém, predominantemente, que seja alguém de posses, mesmo que a cargo de mentiras, assassinatos e conspirações.

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